sexta-feira, 13 de abril de 2012

MEIA-NOITE EM PARIS

MEIA-NOITE EM PARIS

Um olhar saudosista sob a chuva

Por Winston Luiz

“Meia-noite em Paris” (Midnight in Paris, 2011), filme do diretor e roteirista Woody Allen, é, indubitavelmente, uma das produções mais felizes do ano. É um filme que não apenas é bonito visualmente e agradável de se ver – também traz consigo uma mensagem profunda e uma proposta interessante de reflexão sobre a vida.

Basicamente, a história trata de um roteirista famoso de filmes comerciais. Paradoxalmente, o personagem possui uma forte veia romântica e quer ser romancista, um grande romancista, aliás. Paris, em especial, Paris sob a chuva, é seu ambiente de sonho, ideal.

O diretor foi ousado e genial ao tomar um tema comum e bastante recorrente no cinema (viagens no tempo) e reabordá-lo, conferindo-lhe profundidade. O personagem principal consegue misteriosamente viajar no tempo, do século XXI para os anos 20 do século passado – a “l’age d’or” de Paris, como ele vê. Ali ele encontra seus grandes ídolos da arte: Fitzgerald, Cole Porter, Buñuel, Picasso, Dali, dentre outros tantos grandes artistas.

O filme propõe uma reflexão sobre a vida e a felicidade. Tendemos a crer que existe uma “idade de ouro”, um momento em que seríamos mais felizes, quer no passado, quer no futuro. O presente é sempre insatisfatório de alguma forma. Somos convidados, após vivenciarmos os eventos do filme com o personagem de Owen Wilson, a reformular nossos conceitos e passar a buscar construir nossa felicidade hoje, com aquilo que temos – concentrados nas coisas realmente importantes que nos conectam às outras pessoas.

Os elementos formais do filme são muito bem utilizados na construção de uma unidade. Paris é retratada de modo romântico, belo, claro, no contraste “cidade velha – cidade moderna”, durante o dia, durante a noite – e, com especial significado, sob a chuva. Assim, o espectador identifica a visão do personagem sobre Paris, a vê com seus olhos, e pode entender assim o motivo de tanta paixão.

As músicas, com destaque para Cole Porter, captam e refletem bem o espírito mágico e romântico da cidade, e ajudam a criar o clima, a nos envolver ainda mais na história.

Woody Allen ousou investir inclusive no elemento fantástico – será que o personagem principal realmente viaja no tempo? Não seria tudo uma espécie de alucinação?

Instaura-se a dúvida. Sabemos que o personagem sofre de ansiedade, toma remédios regularmente (porém não os têm tomado durante sua estada em Paris). Chega mesmo a haver uma viagem no tempo dentro de uma primeira viagem.

Alucinação?

O filme é muito bem conduzido de modo que acreditamos em tudo o que acontece ao personagem; seus remédios são apenas detalhes mencionados para causar dúvida e gerar o fantástico. E, para reforçar a dúvida, o detetive contratado para segui-lo acaba perdido numa outra época, inexplicavelmente.

Tudo isso é narrado num tom leve, permeado de bom humor, saudosismo, e muito bom gosto. É um filme digno de ser revisto e discutido – vivido e revivido.

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Direção e roteiro: Woody Allen

Elenco:

Owen Wilson (Gil)

Rachel McAdams (Inez)

Kurt Fuller (John)

Mimi Kennedy (Helen)

Michael Sheen (Paul)

Nina Arianda (Carol)

Carla Bruni (Guia do museu)

Daniel Lundh (Juan Belmonte)

Thérèse Bourou-Rubinztein (Alice B. Toklas)


Originalmente publicado em: http://www.camaragibeonline.com/2011/10/27/meia-noite-em-paris/

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